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Crítica - 1917 ( Por Clauber Ferreira )

homem Aranha

Confesso que fui assistir 1917 um pouco descrente. Fui mais pelo sucesso que ele obteve no Golden GlobeCritics’ Choice, entre outros, do que pela esperança de ver algo novo sobre a Primeira Guerra Mundial, ainda mais vindo justamente de Sam Mendes (Beleza Americana, 007-Spectre, etc.), curioso para ver o que alguém tão acostumado com as tecnologias surreais do Sr. James Bond faria ao lidar com combates de trincheiras travados com carabinas e baionetas. O resultado foi que tive uma grata surpresa. Mais uma vez valeu a velha máxima que diz que muitas vezes a forma como algo é contado faz com que tenhamos uma visão diferente daquilo que nos é contado!

Na minha quase, leiga opinião, foram 3 as grandes sacadas do diretor que fizeram desta película uma das grandes favoritas ao Oscar 2020. Em primeiro lugar destaco, sem dúvida alguma, o tal "plano de filmagem" contínuo (ou linear, como prefiram). O fato de TODA a trama se passar em um intervalo de menos de 24 horas foi muito bem explorado pelo diretor. Não há grandes saltos temporais. Quase não dá tempo de respirar. Talvez tenha sido isso o que mais me agradou. Esse tipo de opção de filmagem fez com que o espectador se sentisse como terceiro elemento de um trio, juntando-se aos cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) em sua jornada de menos de 24 horas para tentar impedir que forças aliadas caíssem em uma bem tramada emboscada alemã, e assim evitar que cerca de 1.600 homens morressem! Foram muitas as vezes ao assisti-lo que me peguei praticamente prendendo a respiração (para não ser ouvido pelo inimigo) ou que quase levantei o braço para apontar a direção a ser tomada pelos protagonistas. Sem dúvida, um ponto alto!

Em segundo lugar, a escolha dos atores. Jovens sem projeção exagerada no mundo cinematográfico, mas com o suficiente de bagagem para sustentar a trama sem sentir o peso dos papéis. Ressalto isso porque, a meu ver, ao não lançar mão de nomes e rostos famosos o filme tira o foco de um único indivíduo, passando a estender a história para cada um dos soldados que lutaram naquela guerra, afinal, assim como todos ali tinham suas histórias "secretas", qualquer um ali poderia ter sido o escolhido para aquela missão. A humanização que isso trouxe ao filme também foi de tirar o chapéu, pois a saga então passou a poder pertencer a qualquer um dos presentes naquele front, que percebem isso e em momentos específicos do filme, se unem em sentimento aos protagonistas, como o oficial e os soldados nas cenas onde o pelotão de reforço oferece carona; o Major, na trincheira da linha de frente agradecendo o feito; o tenente (spoiler), na cena final. Foi humano emocionante!

E por último, talvez menos percebida por muitos, a junção na medida certa do áudio às cenas de suspense, ação e/ou emoção, o que deu, sem dúvida, uma maior valorização a cada uma dessas tomadas. Muitas das cenas só são o que são e só nos causaram a emoção que causaram devido à junção na medida certa do tom ora dramático, ora emocionante, com efeitos de luzes, sombras e cores vivas de bombas, sinalizadores, explosões e incêndios, contrastando com a escuridão da noite. O som se uniu a efeitos e paisagens de maneira a se complementarem. É real, emocionante e assustador ao mesmo tempo. Arrisco cravar que com esse tom artístico o filme leva o Oscar de Melhor Fotografia, além de brigar pau a pau por Efeitos Visuais e Mixagem de Som (Além de Melhor Direção e Melhor Filme, claro!)

Definitivamente, 1917 não é o que chamamos "mais do mesmo"! Vale conferir essa obra que trabalhou a temática da guerra sem o foco na violência ou na carnificina e sim na parte humana de cada indivíduo envolvido nela, com uma mensagem que muito bem pode ser estendida como reflexão a muitos de nós e ao valor que damos às batalhas que enfrentamos.


Nota 9,0

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